Ceratocone é uma doença ocular degenerativa causada por fatores genéticos e confundida com outras desordens oftalmológicas, como miopia e astigmatismo. Mas diferente das doenças oculares mais simples, essa condição afeta diretamente a córnea, alterando sua espessura e formato, deixando-a mais fina, irregular e com formato cônico.
Tais alterações causam distorções na visão do paciente, como imagens embaçadas, alto intolerância à luz e formação de múltiplas imagens. Além disso, o desgaste da córnea também traz grandes desconfortos, podendo causar coceira, vermelhidão e lacrimejamento.
O ceratocone é mais comum do que se imagina. No Brasil, a doença acomete 1 em 20 mil indivíduos, sendo a principal causa do transplante de córnea no país.
O que é ceratocone e quais seus sintomas?
O ceratocone é uma doença ocular não infecciosa, na qual acontece um enfraquecimento da córnea devido a alterações em sua composição e estrutura. Assim, a sua conformação natural é afetada ocorrendo a protusão corneana. Ou seja, a córnea aumenta sua curvatura, adquirindo o formato de cone e, consequentemente, a visão fica distorcida.
A condição é bilateral (acomete os dois olhos) em 90% dos casos, mas, normalmente, o segundo olho é diagnosticado cerca de 5 anos depois do diagnóstico do primeiro olho. Por ser um quadro degenerativo, tem o potencial de causar perda gradual da visão.
Sintomas mais comuns
Entre os sintomas mais comuns, está a baixa acuidade visual caracterizada pela presença de uma visão borrada e distorcida, tanto para enxergar objetos de longe quanto para enxergá-los de perto. Além disso, pode ocorrer diplopia (visão dupla de objetos) e possível poliopia (visão de diferentes imagens de um mesmo objeto).
Os pacientes também podem apresentar uma constante necessidade de apertar os olhos devido à fadiga visual, enxergar halos ao redor de luzes mais fortes, ter sensibilidade acentuada à luz (fotofobia) e, não frequentemente, coceira e irritação.
A evolução do ceratocone, predominantemente progressiva, contribui para o desenvolvimento do astigmatismo e/ou miopia de modo relativamente acelerado, sendo necessário corrigir o grau com elevada frequência.
Os sinais e sintomas clínicos variam com a gravidade e evolução da doença, sendo que, quanto mais avançado o estágio, maior a manifestação da sintomatologia.
Quais as causas do ceratocone?
Os estudos na área da oftalmologia ainda não elucidaram quais são as causas exatas da ocorrência do ceratocone, mas sabe-se que é uma doença de caráter hereditário. Além do histórico familiar, existem outros fatores de risco, como a síndrome de Down ou distorções oculares congênitas.
Indivíduos alérgicos que coçam os olhos frequentemente também são mais propensos a desenvolver a doença, pois pode acontecer um enfraquecimento estrutural da membrana em consequência do constante hábito de fricção.
Ceratocone tem cura?
Esta é uma doença controlável e tratável, porém considerada irreversível. Embora o tratamento ofereça resultados bastante satisfatórios na melhoria e estabilização dos sintomas, o ceratocone é muitas vezes confundido com outras condições oftalmológicas comuns, o que leva a um tratamento inadequado e equivocado.
Por isso, é necessário o acompanhamento frequente com médico oftalmologista, favorecendo o diagnóstico precoce da doença e freando seu desenvolvimento.
Nesse sentido, existem alguns exames que podem ser aplicados para o diagnóstico preciso do ceratocone. Em muitos casos, um simples exame de rotina por baixa visual associado a uma avaliação dos sintomas do paciente pode ser o suficiente para detectá-lo.
No entanto, há outros exames complementares importantes. Dentre os mais solicitados, temos: a topografia da córnea, que avalia possíveis irregularidades e distorções na superfície do olho, a paquimetria ultrassônica, teste que mede a espessura da córnea, e a tomografia da córnea, que avalia tanto a curvatura quando a espessura da superfície ocular.
Ceratocone pode cegar?
Por não causar danos permanentes ao nervo óptico, o ceratocone é uma doença que raramente leva à cegueira. No entanto, vale destacar que essa é uma possibilidade. Em estágios avançados, quando não há acompanhamento, essa condição causa prejuízos à visão, chegando a níveis considerados como cegueira.
Para se ter uma ideia, há casos de pacientes com mais de 10 graus no uso de lente corretivas e que, mesmo assim, não possuem uma visão com total nitidez. Porém, como comentamos, essa é uma doença administrável que, com o devido tratamento, estabiliza-se em níveis que garantem a qualidade de vida do paciente.
Tipos de tratamento para ceratocone
Uma vez que danos foram causados à córnea, não há como revertê-los. No entanto, existem diversos tratamentos para controlar do ceratocone e evitar sua progressão. Independentemente do método adotado, o objetivo é sempre preservar a saúde da córnea, garantindo a qualidade da visão do paciente e postergando ao máximo a realização de qualquer intervenção cirúrgica.
Desse modo, o tratamento pode se dar em diversas frentes, que avançam conforme os resultados apresentados. São eles:
1. Colírios
A primeira abordagem ao ceratocone é por meio do uso de colírios específicos para diminuir o desconforto causado pela doença e cortar sua progressão associada ao ato de coçar os olhos com frequência, fator agravante do ceratocone.
Quando adotado em estágios iniciais, o uso de óculos pode nem ser necessário.
2. Óculos
Caso haja perda de visão, o passo seguinte é a utilização de óculos, especialmente nas fases iniciais da doença. Ao notar que o astigmatismo irregular causado pelo desgaste da córnea ainda é baixo, o uso de lentes corretivas externas ainda se mostra eficiente.
3. Lentes de contato
Em pacientes em que os óculos já não fornecem uma visão adequada, passa-se, então, à seguinte opção: lentes de contato. Embora haja diferentes modelos disponíveis no mercado, de uma maneira geral, utilizam-se lentes rígidas gás permeáveis, que proporcionam a regularização da superfície ocular, criando uma camada lacrimal entre a lente e a córnea.
4. Crosslinking
Caso o ceratocone avance e haja uma piora no quadro, o oftalmologista pode indicar o procedimento conhecido como crosslinking. O tratamento consiste na raspagem da superfície da córnea, seguida da aplicação de radiação ultravioleta embebida em riboflavina (vitamina B12) e posterior colocação de lentes de contato gelatinosas que auxiliam na cicatrização e permitem cortar a progressão da doença.
5. Anel de ferrara
Trata-se de outro procedimento cirúrgico, em que o oftalmologista realiza o implante de um anel intra-estromal. Seu objetivo é regularizar a superfície da córnea, reduzindo o grau de astigmatismo e, assim, melhorando a visão do paciente.
6. Transplante de córnea
O transplante de córneas é considerado o último recurso para o tratamento do ceratocone. Sua indicação ocorre apenas quando as outras técnicas não resultam na melhoria da condição do paciente e estancamento da doença. Nesses casos, inclusive, o risco de cegueira é real.
A cirurgia consiste na substituição de parte da córnea afetada por outra saudável. O procedimento corrige quaisquer imperfeições oculares e, consequentemente, melhora visão da pessoa que se submeteu à operação.
Vale destacar que esse se trata de uma dos procedimentos de transplante mais bem-sucedidos da medicina, sendo altamente seguro e eficiente no tratamento de ceratocone de difícil controle.
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