Síndrome de Charles Bonnet: o que é, tratamento e como afeta a visão

Mulher com a mão em um dos olhos irritado.

A Síndrome de Charles Bonnet (SCB) ocorre em pessoas que têm perda significativa da visão, devido a condições como a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), uma das principais causas de perda de visão em idosos. 

No Brasil, a prevalência da Síndrome de Charles Bonnet (SCB) não é amplamente documentada em estudos específicos, mas a condição é comum em pessoas com deficiência visual severa, como aquelas com degeneração macular relacionada à idade.

A SCB pode afetar até 30% dessas pessoas, embora o número exato no Brasil não seja totalmente claro. A enfermidade é frequentemente subdiagnosticada, pois muitos pacientes com ilusões visuais não discutem o problema com seus médicos devido ao medo de serem considerados doentes psiquiátricos.

Neste artigo, abordamos os principais aspectos da SCB, incluindo suas causas, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento, além de estratégias para conviver com a condição e melhorar o bem-estar.

O que é a síndrome de Charles Bonnet?

A Síndrome de Charles Bonnet (SCB) é uma condição em que pessoas com perda significativa da visão experimentam ilusões visuais complexas, mesmo sem problemas mentais ou psiquiátricos. Essas alucinações não envolvem outros sentidos e são geralmente reconhecidas como irreais pelos afetados.

As fantasias formam imagens ou cenas que parecem reais, mas não têm origem em estímulos externos. Elas podem variar de formas simples, como luzes ou padrões, a visões complexas de pessoas, objetos ou cenários, sendo geradas pelo cérebro sem qualquer estímulo visual real.

Quais são as causas da Síndrome de Charles Bonnet?

A patologia acontece porque o cérebro, ao perder os estímulos visuais normais devido à deficiência visual, começa a gerar imagens espontâneas, resultando nas ilusões. Entre as condições que podem causar a enfermidade, podemos citar:

  • Degeneração macular relacionada à idade (DMRI): principal causa de dano em pessoas idosas, especialmente em áreas centrais do campo visual;
  • Glaucoma: prejuízo do nervo óptico que pode resultar em perda de visão periférica e progressiva;
  • Catarata: opacidade no cristalino que compromete a qualidade visual;
  • Retinopatia diabética: danos nos vasos sanguíneos da retina devido ao diabetes, reduzindo a visibilidade;
  • Neuropatia óptica: lesões ou enfermidades que afetam o nervo óptico, como a neurite óptica;
  • Doenças hereditárias: algumas condições genéticas, como a retinose pigmentar, podem levar ao dano gradual da visão;
  • Descolamento de retina: pode causar perda visual parcial ou total, dependendo da gravidade.

Quais são os sintomas da Síndrome de Charles Bonnet?

O principal sintoma da SCB são as alucinações visuais. Assim, os primeiros sintomas dessa síndrome envolvem ilusões simples, como a visualização de linhas, formas geométricas, padrões ou flashes de luz.

Ao progredir, as fantasias se tornam mais complexas, com imagens de pessoas, animais, plantas, objetos ou cenas inteiras que parecem realistas e detalhadas.

Essas visões ocorrem esporadicamente, em momentos de inatividade ou silêncio, como ao descansar ou ficar em um ambiente tranquilo, e não envolvem sons, cheiros ou outros sentidos.

O indivíduo reconhece que as imagens não são reais, diferente de condições psiquiátricas, como a esquizofrenia. Além disso, elas podem ser breves ou durar horas, com imagens estáticas ou que se movem.

Quais são os fatores de risco para a doença?

Além das doenças degenerativas dos olhos, a condição pode ser agravada por fatores etários e sociais, entre eles a idade avançada, especialmente em pessoas acima dos 60 anos, e o isolamento social, que pode intensificar a percepção dos sintomas.

Mesmo que o paciente apresente uma boa função cognitiva, ele pode desenvolver essas imagens mentais, pois a SCB não está associada à demência ou a distúrbios psiquiátricos, mas sim à capacidade cerebral de compensar o dano visual.

Como é o diagnóstico da síndrome de Charles Bonnet?

O diagnóstico é clínico e ocorre quando pacientes com perda visual significativa relatam alucinações vívidas e complexas. 

O médico avalia o caso descartando outras causas, como transtornos neurológicos (demência, AVC), psiquiátricos (esquizofrenia) ou efeitos de substâncias e medicamentos. Exames oftalmológicos ajudam a identificar a condição subjacente ao dano, enquanto exames de imagem ou laboratoriais, quando necessários, reforçam a exclusão de outras hipóteses. 

O diagnóstico é confirmado se as imagens mentais forem exclusivamente visuais e o paciente estiver plenamente lúcido. Confira abaixo os exames utilizados para confirmar a doença e descartar outras causas:

  • Exame oftalmológico completo: para avaliar a perda visual e suas causas;
  • Ressonância magnética ou tomografia cerebral: para descartar condições neurológicas, como AVC ou tumores;
  • Eletroencefalograma (EEG): se houver suspeita de epilepsia;
  • Exames laboratoriais: para investigar possíveis causas metabólicas e tóxicas;
  • Avaliação psiquiátrica: para excluir transtornos como esquizofrenia.

Quais são as opções de tratamento disponíveis?

Não há cura definitiva para essa condição, uma vez que ela está associada a condições irreversíveis. No entanto, as ilusões podem ser controladas e gerenciadas com tratamentos adequados, como orientação psicológica, uso de medicamentos e estratégias de distração.

O foco do tratamento é melhorar a qualidade de vida do paciente, reduzir a ansiedade e ajudar a lidar com os devaneios, proporcionando suporte para enfrentar a rotina.

Algumas das principais estratégias de tratamento da Síndrome de Charles Bonnet incluem:

  • Educar o paciente, reforçando que as imagens mentais não são reais e que ele não está perdendo a sanidade;
  • Apoio emocional e psicológico, a fim de reduzir a ansiedade e o medo;
  • Usar dispositivos de auxílio, como óculos especiais ou lentes de aumento para melhorar a visão;
  • Medicação ou cirurgia para tratar doenças como degeneração macular e glaucoma;
  • Medicamentos como a quetiapina que reduzem as percepções distorcidas, embora isso não seja sempre necessário;
  • Antidepressivos, caso existam sintomas de depressão relacionados à condição;
  • Estímulos visuais ou auditivos, para desviar a atenção das alucinações, como ouvir música ou praticar atividades que exigem foco visual;
  • Terapia cognitivo-comportamental (TCC), que ajuda o paciente a lidar com a ansiedade e as reações emocionais às alucinações, oferecendo estratégias para enfrentá-las.

Como conviver com esse distúrbio?

Primeiro, é importante que o paciente saiba que essas alucinações não são reais e que ele não está perdendo a sanidade.

Comece a se informar sobre a doença, pois saber o que está acontecendo pode diminuir muito o medo e a ansiedade. Acompanhamentos regulares com um oftalmologista serão essenciais, assim como a exploração de tratamentos que ajudem a aliviar as alucinações, como terapia psicológica ou, em alguns casos, medicação.

Tente se concentrar em atividades que mantenham sua mente ocupada e focada em coisas positivas, como ler, ouvir música ou até mesmo praticar exercícios mentais. E lembre-se: você pode contar com o apoio da sua família e amigos, além de grupos de apoio para pessoas com dificuldades visuais.

O que fazer para evitar a doença?

É possível adotar algumas medidas para reduzir o risco de desenvolver a SCB ou minimizar seus efeitos. Entre as principais, podemos citar:

  • Prevenção e tratamento das doenças oculares: realizar exames oftalmológicos regulares auxilia na detecção precoce dessas condições, evitando que piorem;
  • Adotar hábitos saudáveis para os olhos: como evitar a exposição excessiva à luz solar sem proteção, usar óculos de sol adequados e manter uma alimentação rica em nutrientes, como vitamina C, vitamina E, luteína e zeaxantina;
  • Controle de doenças sistêmicas: já que a diabetes e a hipertensão são fatores de risco para várias doenças, manter esses problemas sob controle previne complicações.
  • Exercícios e estimulação mental: a prática regular de atividades físicas e mentais melhora a saúde geral e mantém a função cognitiva. Exercícios como caminhadas e jogos de memória reduzem o risco de doenças que afetam tanto a visão quanto o cérebro;
  • Acompanhamento médico contínuo: pessoas com condições de risco devem ter acompanhamento regular com oftalmologistas e outros especialistas para monitorar a saúde ocular e realizar tratamentos preventivos.

A Síndrome de Charles Bonnet é uma condição complexa que afeta pessoas com perda significativa de visão, frequentemente associada a distúrbios como a degeneração macular relacionada à idade. 

Embora não haja cura definitiva, existem tratamentos e estratégias de apoio que, com o devido suporte, permitem ao paciente enfrentar as alucinações de forma mais tranquila e manter uma boa qualidade de vida.

Se você busca cuidados especializados para a saúde dos olhos, conte com a Clínica de Oftalmologia Integrada (COI). Com uma equipe de profissionais altamente capacitados e tecnologia de ponta, oferecemos tratamentos completos e personalizados para todas as necessidades oculares.

Banner com botão para agendar sua consulta.

Picture of Dr. Ricardo Filippo

Dr. Ricardo Filippo

Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Durante sua vida acadêmica, participou de dezenas de congressos e simpósios, no Brasil e no exterior, e ministrou diversas aulas sobre Oftalmologia. Dr. Ricardo Filippo é especialista em oftalmologia e produz conteúdos sobre saúde ocular.

Comentários