Guia completo da Miopia: entenda o que é essa condição, o que causa e tratamentos disponíveis

uma floresta vista por óculos

A miopia é uma doença ocular que prejudica a capacidade da pessoa enxergar à distância e que pode ser tratada com orientação médica.

A miopia é possivelmente o problema visual mais comum que há. Felizmente, a doença já é bem conhecida na Medicina, e os tratamentos, assim como a cirurgia refrativa, são eficazes e difundidos. No entanto, apesar do amplo conhecimento por parte dos oftalmologistas, o fato é que poucos pacientes realmente conhecem esse mal a fundo.

Embora seja causada principalmente por questões genéticas, os estudos indicam que o número de pessoas míopes cresceu nos últimos anos, especialmente entre as crianças e adolescentes. 

Neste artigo, explicaremos o que é miopia, quais características da doença, porque esse número de portadores está aumentando e como prevenir seu desenvolvimento.

Boa leitura!

O que é miopia?

A miopia é um problema de visão que afeta a capacidade de enxergar objetos distantes com clareza. Pessoas com miopia têm dificuldade em enxergar objetos que estão longe, enquanto objetos próximos podem ser vistos com clareza.

Para que você veja claramente, os raios de luz devem viajar através de sua córnea e lente ocular (cristalino). A córnea e a lente refratam a luz para que ela atinja a retina. A retina transforma a luz em sinais que viajam para o cérebro e se tornam imagens. Com erros de refração, a forma de sua córnea ou da lente, a luz fica impedida de se dobrar adequadamente. Quando a luz não está focada na retina como deveria, sua visão fica embaçada.

O grau da doença é que vai determinar a que distância começa a falta de nitidez, no entanto, nos casos mais graves os portadores apenas enxergarão bem os itens que estiverem a poucos centímetros de seus olhos.

Veja na imagem abaixo, que simula como fica a visão de uma pessoa sem miopia e depois com baixa miopia, miopia moderada e alta miopia, respectivamente.

Imagem que mostra a diferença entre os graus de miopia

Ela pode se desenvolver de forma gradual ou rapidamente, e sua maior piora, em geral, coincide com a fase de crescimento. A miopia possui um forte fator genético, e estima-se que até 40% da população do ocidente seja afetada pela doença.

Quais são os tipos de miopia?

Além dos diferentes graus de miopia, existem alguns tipos de miopia. Confira quais são.

Miopia degenerativa

Também conhecida como miopia patológica ou maligna, esse é um tipo raro de problema ocular que é geralmente herdado dos pais. 

Nesse caso, o globo ocular fica mais longo de maneira muito rápida e causa miopia grave. Além de afetar a visão, esse tipo de miopia também pode contribuir para ocorrer o descolamento da retina, glaucoma e o crescimento de vasos sanguíneos no olho. 

Miopia congênita

A miopia congênita é herdada, por ser devido a um fator genético. Se os pais têm miopia, seu filho também pode ter. Este tipo de miopia está presente desde a infância, e frequentemente pode começar a se desenvolver entre os 6 e os 8 anos.

Miopia secundária

Mais comumente encontrada em idosos, a miopia secundária decorre de outras doenças, como catarata, por isso o nome secundária. Este tipo de miopia é causada pela degeneração do cristalino.

Miopia por índice refrativo do cristalino

Neste tipo de miopia, o cristalino se torna mais opaco com o decorrer do tempo, aumentando o índice de refração, fazendo com seja mais difícil para a luz passar pelo cristalino, e aumentando, consequentemente, o desvio que a luz faz, ocorrendo uma convergência antes da retina.

Miopia de curvatura

Miopia de curvatura é o tipo de miopia mais frequente. Quando a córnea e/ou cristalino têm a curvatura mais acentuada, ocorre uma convergência dos raios de luz antes da retina, fazendo com que os raios luminosos não convirjam da forma correta. 

Miopia axial

Trata-se de uma forma mais grave da doença, quando o globo ocular cresce mais do que deveria, fazendo com que a luz não chegue na retina, e com isso os raios de luz não são convergidos na retina do olho, onde deveriam. 

Além de prejudicar a visão, ela também pode aumentar as chances de ocorrer o desenvolvimento de outros problemas no olho, como catarata, glaucoma e descolamento da retina. 

Quais são as causas da miopia?

Para entender o que causa essa doença, é importante compreender como a visão funciona. Os raios de luz devem viajar através da córnea e lente ocular (cristalino) para que a pessoa consiga enxergar com clareza.

A córnea e a lente são estruturas do globo ocular responsáveis por refratar, ou seja, desviar a luz para que ela atinja a retina. Por sua vez, a retina transforma a luz em sinais enviados para o cérebro e se tornam imagens. 

O problema é que o formato da córnea ou lente de pessoas com miopia impedem que esse processo de desvio de luz ocorra da forma correta. Normalmente, pessoas míopes tem um formato do olho mais alongado ou a córnea mais curva do que o normal, prejudicando esse processo de refração.

Imagem que mostra como é um olho com miopia e outro sem.

Se a luz não atinge a retina como deveria, as imagens se tornam distorcidas e a visão fica embaçada. Esse quadro de distorção das imagens pode se desenvolver de forma rápida ou gradual. Além disso, os sintomas tendem a piorar durante a fase de crescimento, já que esse problema de visão possui um forte fator genético. 

Geralmente, as pessoas desenvolvem essa condição ocular depois dos quatro anos, quando os olhos passam a crescer de maneira mais rápida. Conforme a criança cresce e se aproxima da adolescência, o problema também evolui. 

Quais os fatores de risco para a miopia?

Os fatores de risco se referem a condições que podem aumentar as chances de desenvolvimento da doença. No caso da miopia, o principal fator de risco é a genética, ou seja, a hereditariedade. Normalmente, pessoas diagnosticadas com essa doença têm pelo menos um dos pais míopes. 

No entanto, o número de pessoas míopes tem crescido significativamente nas últimas décadas, especialmente entre os mais jovens. 

Segundo uma pesquisa realizada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, cerca de 70% dos oftalmologistas perceberam o aumento da progressão de miopia em crianças durante a pandemia. 

Quase todos os profissionais entrevistados apontaram o uso excessivo de telas como a principal causa dessa progressão. Acredita-se que um estresse visual excessivo por estar em ambientes que exijam o uso da visão de perto, como telas de computador e celular, por exemplo, possa estar associado ao surgimento da miopia.

Isso porque essa exposição excessiva a smartphones, tablets e computadores está ligado ao desenvolvimento de sintomas de fadiga visual e problemas de refração.

Em outras palavras, tanto a genética quanto o estresse visual causado pelo uso excessivo de telas podem provocar miopia.

Vale lembrar que o trauma ocular e a diabetes mellitus também são fatores de risco para essa doença. Portanto, pessoas diagnosticadas com esses problemas devem fazer o acompanhamento oftalmológico.

Quais os sintomas da miopia?

O principal sintoma da miopia é a visão embaçada. No entanto, a doença também pode causar outros sinais que impactam a capacidade visual e a qualidade de vida dos seus portadores.

Conhecer esses sinais é fundamental para entender quando visitar o oftalmologista para investigar as causas do problema.

Confira abaixo os principais sintomas que as pessoas míopes sentem:

  • Visão embaçada ou borrada quando tenta enxergar objetos distantes;
  • Dificuldade para reconhecer rostos, identificar pessoas e ler quadros, placas e textos que não estejam perto;
  • Dor de cabeça;
  • Tontura;
  • Tensão ocular;
  • Hábito de “apertar” os olhos para tentar enxergar melhor a distância;
  • Sensação de cansaço ao dirigir, praticar exercícios físicos ou tentar enxergar algo que está distante;
  • Dificuldade para dirigir, especialmente a noite;
  • Necessidade de aproximar objetos perto do rosto para enxergá-los;
  • Hábito de piscar ou esfregar os olhos com frequência para tentar focar as imagens à distância.
Imagem de flores com o fundo embaçado

Como é a tontura da miopia?

Outro sintoma comum da miopia é a tontura. Isso acontece justamente porque a pessoa míope tem dificuldade de enxergar o que está longe, vendo as coisas “borradas”. 

Isso faz com que ela enxergue objetos com pouca nitidez, o que exige que seja feito um maior esforço para ver de forma clara. Essa situação pode provocar tontura.

Qual é a diferença entre miopia, hipermetropia e astigmatismo? 

Além da miopia, existem diversos outros problemas oculares, como a hipermetropia e o astigmatismo. Todas essas condições são chamadas de erros refrativos. 

No entanto, embora algumas pessoas achem que elas são parecidas, existem características diferentes para astigmatismo, miopia e hipermetropia. Entenda quais são elas:

  • Astigmatismo: provoca visão distorcida e embaçada;
  • Miopia: gera dificuldade para enxergar coisas que estão longe;
  • Hipermetropia: causa dificuldade para enxergar coisas que estão perto.  

Leia também:Como saber se tenho miopia ou astigmatismo?

Como é feito o diagnóstico dessa doença?

O diagnóstico desse problema ocular é realizado pelo médico oftalmologista. Por esse motivo, ao sentir quaisquer sinais da doença, é fundamental se consultar com esse especialista. 

Durante a consulta, o médico avaliará os sintomas e o histórico do paciente. Além disso, ele também solicitará alguns exames oftalmológicos para diagnóstico de miopia.

Confira abaixo quais são esses exames:

Quais os exames oftalmológicos realizados para o diagnóstico de miopia?

O médico pode solicitar diferentes exames para diagnosticar a doença. Normalmente, o oftalmologista solicita a avaliação da pressão intraocular, da reação pupilar e o exame do fundo do olho do paciente. 

Ele também deve fazer a avaliação da sua acuidade visual, pedindo para que a pessoa leia algumas letras em um gráfico, também conhecido como teste de Snellen

Caso esse exame indique a presença da miopia, o oftalmologista ainda pode utilizar um retinoscópio iluminado para medir como a luz é refletida pela retina.

Por fim, ele utiliza um foróptero para medir a quantidade do erro de refração, ou seja, os graus de miopia do paciente. Para isso, o médico coloca uma série de lentes na frente de seus olhos para avaliar o grau da lente que a pessoa precisa utilizar para corrigir o problema.

Diagnóstico de miopia em crianças

No caso de crianças, o primeiro exame oftalmológico pode ser realizado antes do primeiro ano de vida. Caso nenhum problema ocular seja identificado, é importante que novos exames sejam realizados antes do jardim de infância, se possível.

Devido à questão hereditária, se a criança tiver membros da família com problemas refrativos, é ainda mais importante que ela seja levada a uma consulta com oftalmologista pediátrico para realizar um teste de miopia.

Durante a realização do exame, o médico verificará se há reflexo de luz regular. No caso de crianças com idades entre 3 e 5 anos, também pode ser necessário realizar exames usando gráficos oculares ou teste de acuidade visual.

É importante destacar que a visão da criança se desenvolve conforme ela cresce e a miopia costuma ser diagnosticada entre as idades de 3 e 12 anos.

Tratamento para miopia

Existem várias estratégias que podem ser usadas para corrigir e até eliminar o problema de miopia. Para isso, o oftalmologista pode indicar a realização de procedimentos cirúrgicos ou opção de tratamento não-invasivo.

Conheça abaixo quais estratégias podem ser utilizadas no tratamento dessa doença. 

Opções de tratamento não cirúrgico para miopia

O tratamento não cirúrgico mais popular para miopia é o uso de óculos de grau. Dependendo do grau de correção necessário, o paciente pode usar óculos diariamente ou apenas quando precisar enxergar objetos distantes. 

Além disso, ele pode trocar os óculos pelas lentes de contato, que também é uma opção de tratamento eficaz para esse problema. Normalmente, as pessoas preferem usar a lente por conforto, praticidade e estética. 

No entanto, as lentes de contato exigem cuidados especiais de higiene para se manterem limpas e não prejudicarem a saúde ocular do paciente.

Cirurgias refrativas para correção de miopia

A cirurgia de miopia é o tratamento definitivo para correção desse erro de refração. Ou seja, o procedimento cura essa doença, eliminando esse problema de visão. 

Para atingir tal objetivo, o paciente deve passar por uma cirurgia para correção de refração, que pode ser realizada com diferentes técnicas. 

Atualmente, as técnicas conhecidas como LASIK (laser in situ keratomileusis), PRK (ceratectomia fotorrefrativa) e SMILE são as mais utilizadas nesse tipo de procedimento. Todas são utilizadas em cirurgia refrativa a laser, mas cada uma delas tem características e indicações diferentes.

Além desses procedimentos, o oftalmologista pode indicar a realização de um procedimento para colocar lentes intraoculares. Ele é indicado quando o paciente tem alta miopia, mas possui uma córnea muito fina para que uma cirurgia com LASIK ou PRK seja realizada.

Ao conversar com o seu oftalmologista, vocês poderão decidir qual é a melhor opção para você. Para isso, entenda as diferentes técnicas:

LASIK

LASIK é uma cirurgia refrativa a laser cujo objetivo é corrigir a miopia. No caso desse procedimento, o oftalmologista usa um laser para cortar uma “aba” na parte superior da córnea. 

Depois disso, ele faz um processo de remodelar o tecido interno da córnea e, em seguida, coloca a aba de volta no lugar. 

PRK

PRK é outro tipo de cirurgia a laser que pode corrigir a miopia e/ou astigmatismo. Durante a cirurgia, o médico utiliza o laser para remodelar a superfície da córnea.

Diferente da LASIK, na PRK não é necessário fazer o corte de uma aba no olho. Por esse motivo, a cirurgia é indicada para pacientes que possuem córneas mais finas ou com superfície áspera, pois rompe menos tecido da região. 

SMILE

No procedimento de SMILE não existe a remoção do epitélio. Em vez disso, o cirurgião usa um laser para cortar um pequeno pedaço da córnea, em forma de disco, removido por meio de uma pequena incisão. 

É importante deixar claro que as cirurgias de miopia não são ideais para todos os pacientes. O procedimento cirúrgico é recomendado para casos onde a miopia não está mais progredindo.

Lentes intraoculares

Outra opção para pacientes com miopia é colocar lentes intraoculares. Esse procedimento é indicado para quem tem alta miopia e possui a córnea muito fina para que uma LASIK ou PRK seja realizada.

As lentes intraoculares são colocadas dentro do olho, na frente da lente natural.

Veja também: Quanto custa cirurgia de miopia

Vale lembrar que esses procedimentos cirúrgicos não são indicados para todos os pacientes. Eles são recomendados apenas para casos em que a miopia não está mais progredindo, ou seja, que a doença está estável.

Existe cura para a miopia?

Muitas pessoas têm dúvida se a miopia tem cura usando óculos e a resposta para essa questão é não! O uso de óculos e lentes corretivas é indicado para o tratamento da miopia, no entanto, não impede a evolução do problema, muito menos a curá-lo. 

Portanto, o uso de óculos — ou lente de contato com grau — é indicado para corrigir o distúrbio e melhorar a visão, mas não é capaz de curar o problema. 

Entretanto, é possível corrigir totalmente o problema ou diminuí-lo por meio de uma cirurgia refrativa. Por esse motivo, é muito importante que converse com o seu médico e entenda qual tratamento é o ideal para você. 

Como evitar a piora desse problema ocular?

Embora seja impossível combater a predisposição genética ao desenvolvimento da miopia, existem estratégias que ajudam a evitar os outros fatores de risco da doença. 

Essas medidas consistem em reduzir o tempo de uso de tela e aumentar o tempo de exposição ao ar livre, de preferência em ambientes com luz solar. Tais estratégias são recomendadas para pessoas de todas as faixas etárias, especialmente para crianças e adolescentes. 

No caso de adultos que estudam e/ou trabalham no computador e passam muito tempo expostos à tela, o ideal é fazer intervalos a cada 30 minutos para “descansar a vista” e evitar problemas para enxergar a distância.

Ao identificar qualquer alteração na sua visão, ou na do seu filho, é muito importante procurar um médico para que exames sejam realizados.

Porém, mesmo que não identifique nenhum dos sintomas de miopia, além dessas estratégias, é recomendado visitar o oftalmologista pelo menos uma vez por ano. Isso é essencial para o diagnóstico precoce e o tratamento correto de qualquer problema que afete sua saúde ocular e qualidade de vida. 

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Dr. Ricardo Filippo

Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Durante sua vida acadêmica, participou de dezenas de congressos e simpósios, no Brasil e no exterior, e ministrou diversas aulas sobre Oftalmologia. Dr. Ricardo Filippo é especialista em oftalmologia e produz conteúdos sobre saúde ocular.

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